A Santidade - O que é ser Santo?
Solenidade de todos-os-Santos – o que é ser Santo?
1. Neste ano, tão especial, é ainda mais importante e “decisivo, repassar, a história da nossa fé, que nos ajuda a ver o mistério insondável da santidade, entrelaçada com o pecado” (Bento XVI, PF 13). Na verdade, apesar de tantos erros e pecados, que nos induzem à conversão, a história da Igreja está marcada sobretudo pelos santos, por homens e mulheres, que com a sua fé, se tornaram, para nós, não heróis inimitáveis, mas faróis que nos iluminam, no caminho da fé. Diríamos que os Santos são autênticas testemunhas da fé, que manifestam, ao mundo, a presença poderosa e transformadora de Cristo Ressuscitado, nas suas vidas. Seguir o exemplo dos santos, recorrer à sua intercessão, entrar em comunhão com eles, «une-nos mais ainda a Cristo» (LG 50) e isso mesmo nos fortalece, no caminho e no testemunho da fé.
2. Com frequência, somos ainda levados a pensar que a santidade é uma meta reservada a poucos eleitos. São Paulo, pelo contrário, afirma, que «em Cristo, Deus escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados» (Ef 1, 4). E fala de todos nós. E fala para todos nós. A santidade não consiste em fazer milagres, nem sequer em realizar empreendimentos extraordinários, mas simplesmente em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios, em fazer nossas, as Suas atitudes, pensamentos e comportamentos. E este chamamento à santidade é, pois, universal: «nos vários géneros de vida e nas várias formas profissionais é praticada uma única santidade» (LG 41).
3. Mas como poderemos nós percorrer este caminho da santidade? Podemos fazê-lo somente com as nossas forças? A resposta é clara: uma vida santa não é fruto principalmente do nosso esforço, das nossas boas ações, porque, na verdade é Deus “a fonte de toda a santidade”; a santidade é fruto da própria vida de Cristo Ressuscitado, que nos é comunicada e nos transforma, pela ação do seu Espírito Santo. Diz o Concílio Vaticano II: «Os seguidores de Cristo, foram feitos, no batismo da fé, verdadeiros filhos de Deus e participantes da natureza divina, e por isso são verdadeiramente santos. Devem, portanto, com a ajuda de Deus, conservar e aperfeiçoar, na sua vida, a santidade que receberam» (LG 40) no Batismo.
4. E coloquemos agora ainda uma segunda pergunta: O que é afinal essencial, no caminho da santidade cristã? O Concílio Vaticano II diz-nos que a alma da santidade é a caridade, plenamente vivida (LG 42), isto é, o amor de Deus, acolhido na fé. Essencial, diria o Papa, “é nunca deixar passar um domingo sem um encontro com Cristo Ressuscitado na Eucaristia. Essencial é nunca começar nem terminar um dia sem, pelo menos, um breve contacto com Deus, na oração. Essencial é, no caminho da nossa vida, seguir as «indicações» básicas dos dez mandamentos, que Deus nos deixou” (Bento XVI, Audiência, 13.04.2011), para avançarmos na estrada da perfeição, até chegarmos a seguir Cristo, no caminho da vida! Só na comunhão com Cristo, é possível viver, até ao fim e ao fundo, o mandamento novo do amor!
5. Neste Ano da Fé, dêmo-nos conta, de que os santos são verdadeiras estrelas no firmamento da história, que nos guiam no caminho da fé. “Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus (…) Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre. Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade cristã. Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar o Evangelho. Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo, para viver em simplicidade evangélica. Pela fé, muitos cristãos tornaram-se promotores da justiça. Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres, de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus, nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios, a que foram chamados” (cf. Porta Fidei, 13).
6. Todos estes santos nos auguram e asseguram, que é possível percorrer o caminho da santidade, em todo o tempo e lugar, em qualquer idade ou estado de vida. E isso provam-no não somente os santos, inscritos no calendário da Igreja, mas também todos os outros santos, as pessoas simples e boas que encontramos no caminho da nossa vida, e que nunca serão canonizadas. São pessoas normais, nossos amigos, pais, avós, familiares, sem heroísmo visível, mas que, todos os dias, nos fazem ver e tocar, na sua bondade, a verdade, a beleza e a riqueza da fé.
7. Queridos irmãos e irmãs:
Como é grande e bela, e também simples, a vocação cristã, vista assim à luz da fé! Não tenhamos medo de tender para o alto, para as alturas de Deus; não tenhamos medo que Deus nos peça demasiado, mas deixemo-nos guiar em todas as ações quotidianas, pela sua Palavra, mesmo se nos sentimos pobres, inadequados, pecadores: é sempre Ele que nos transforma pela graça do Seu amor! Lembrai-vos disto: “Só há uma única infelicidade, que é a de não sermos santos” (Léon Bloy)!
Pe. Amaro Gonçalo.