Homilia dominical (5º dom. TC.) proferida pelo pároco - Cónego Manuel Martins
Homilia do 5º. Domingo do Tempo Comum – Ano A
A Palavra de Deus deste 5º Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir sobre o compromisso cristão. Aqueles que como nós entraram um dia pelo Baptismo, para a família de Deus, a Igreja, não podem remeter-se a uma vida cómoda e instalada, de indiferença para com Deus e para com o próximo, nem refugiar-se numa religião ritualista feita de gestos vazios; mas têm de viver de tal forma comprometidos com a transformação do mundo que se tornem uma luz que brilha na noite do mundo e que aponta o sentido para Deus e o Seu “Reino”.
Jesus diz-nos quem somos como cristãos e ensinam-nos aquilo que devemos fazer para permanecer no seu amor. Ser luz e sal no mundo. Jesus aponta-nos um caminho, enquanto "o espírito do mundo" oferece outro. Somos chamados a deixar-nos transformar pela força do Evangelho. "Desperta, tu que dormes. Levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará".
O "espírito do mundo" oferece múltiplas ilusões, numerosas paródias de felicidade. Sem dúvida, não existem trevas mais densas do que aquelas que se insinuam na alma das pessoas, quando deixam extinguir nelas a luz da fé, da esperança e do amor cristão. "A maior utopia, a fonte mais importante da infelicidade consiste na ilusão de encontrar a vida renunciando a Deus", de querer ser feliz sem a felicidade que é Deus, de querer conquistar a liberdade submetendo-se a práticas escravizantes, excluindo as verdades evangélicas, morais, espirituais e a responsabilidade pessoal. O Senhor convida-vos a escolher entre estas duas vozes, que concorrem para se apoderar da nossa alma: a que liberta e a que escravisa.
Por isso nos adverte a sermos luz a iluminar a vida e sal a dar sabor ao mundo. O nosso mundo tem, desesperadamente, necessidade de um sentido renovado da fraternidade e da solidariedade humanas. Trata-se de um mundo que precisa de ser sensibilizado e "curado pela beleza e pela riqueza do amor de Deus", porque perdeu a esperança. "Perdemos demasido tempo a sustentar projectos irrealizáveis, e a não viver com a alegria que é possível": e isto não se trata de viver sem ambição, mas de ter os pés bem assentes na terra. Ensinaram-nos durante tanto tempo a esperar que tudo nos caísse nas mãos sem trabalho, só facilitismos, viver da dependência dos outros, e esquecemos que deverá haver uma luta laboriosa para alcançarmos os nossos sonhos, ensinaram-nos a cultivar sonhos de vaidade humana, quando precisamos é de avaliar as motivações dos nossos projectos. O nosso mundo precisa de testemunhas do amor e da alegria do Evangelho. O Mundo precisa que sejamos o sal da terra e luz do mundo. O mundo tem necessidade de todos nós, da luz do Evangelho para iluminar os nossos caminhos, e do sal para que dê sabor aos nossos sofrimentos e dores, dificuldades e fracassos,enchendo de sentido a nossa existência humana.
Como cristãos, temos a missão de conservar e manter viva a consciência da presença de Jesus Cristo, nosso Salvador, no nosso mundo, especialmente nas nossas paróquias e nas nossas famílias. Nós cristãos cada vez mais nos tornamos indiferentes e menos fervorosos. Parece que não acreditarmos nas verdades que professamos. O Catolicismo continua a diminuir e esquecemos o amor de Deus Pai que enviou o Seu Filho para nos iluminar a vida. É urgente a missão de dar a conhecer Jesus. Apenas um terço da humanidade aceita Cristo, pelo que a tarefa de evangelizar torna-se cada vez mais urgente, e precisa do nosso testemunho de vida, da Palavra, da nossa oração, e da nossa partilha generosa. Devemos conservar viva as palavras de vida que Jesus pronunciou, as maravilhosas obras de misericórdia e de bondade que Ele realizou. Devemos recordar a nós e ao mundo, constantemente, que "o Evangelho é a força de Deus para a salvação!
O sal tempera e dá sabor à comida. Seguindo Cristo, devemos transformar e melhorar o "sabor" da história humana. Com a nossa fé, esperança e amor, com a nossa inteligência, fortaleza e perseverança, devemos humanizar o mundo em que vivemos.
Na 1ª leit. o Profeta Isaías indica a maneira de realizar isto: ser luz é testemunhar a caridade: “Reparte o pão com o faminto, acolhe os pobres e injustiçados, e nascerá nas trevas a tua luz. (58, 6-10).
A este propósito S. Paulo afirma: “Conheceis a bondade do Senhor, que sendo rico fez-se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza!”. “A Encarnação de Deus é um grande mistério, mas a razão porque o Filho de Deus se fez homem, é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-se, a sacrificar-se pelas suas amadas criaturas”. E isto não é conversa fiada, é a lógica do amor de Deus. Ele não fez cair do céu sobre nós a salvação, como esmola de quem dá parte do que tem a mais, numa atitude de piedade. Não, Ele próprio entregou-se e doou-se totalmente até à última gota de sangue, sem reservar nada para Si. Significa que dar faz doer. O despojar-se de si para se dar, dói. O Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma afirma a este propósito: “Desconfio da esmola que não custa nem dói”.
A vida sem Deus e sem amor, torna-se como comida sem sal. O sabor será devolvido quando soubermos encarar a vida com realismo: não viver o pessimismo do fracasso diante das dificuldades, nem criar falsas expectativas diante das alegrias. É preciso agradecer a Deus tudo: o bom e o ruim. Não culpar Deus pela cruz e nem buscar soluções mágicas diante das adversidades. A vida tem sabor quando vivemos o presente como o momento mais importante. Saibamos corresponder ao convide de Jesus e seremos luz e sal dando sabor à nossa vida e à história humana.
Fontes: Liturgia do 5º domingo TC – A , e Mensagem quaresmal 2014 do Papa Francisco.