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Homilia para o 30º Domingo do tempo comum - B - o cego de Jericó

28-10-2012 08:46

XXX Domingo TC – B o cego de Jericó

O Evangelho que acabámos de escutar, narrado por S. Marcos, apresenta-nos Jesus a sair da cidade de Jericó e um cego que estava à beira do caminho a pedir esmola começou a gritar chamando por Jesus: "Filho de David, tem compaixão de mim."

Esta expressão dita pelo cego, tem uma profundidade teológica muito grande, pois indica a misericórdia de Deus que pode beneficiar os seus amados, em qualquer circunstância. Também mostra a esperança do cego que acredita que Deus pode ser a solução para a sua vida miserável de mendigo e de cego marginalizado. A esperança é uma virtude que deve ser cultivada com carinho e também mostra a importância da perseverança na oração, uma vez que o cego gritava com insistência para que Jesus tivesse misericórdia dele.

O cego está sentado à beira do caminho, a pedir esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste condição, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. O pedir esmola, indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra.

Contudo, a passagem de Jesus de Nazaré dá ao cego a consciência da sua situação de miséria, de dependência, de escravidão. Então, Bartimeu está consciente da sua fraqueza e sente que, sem a ajuda de Jesus, continuará envolvido pelas trevas da dependência e de escravidão… por isso pede: “Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim”. Bartimeu vê em Jesus esse Messias salvador que, segundo a mentalidade judaica, havia de vir, não só para salvar Israel dos opressores, mas também para dar vida em plenitude a cada membro do Povo de Deus.

A multidão repreende o cego e manda-o calar. Quando alguém encontra Jesus e resolve deixar a vida antiga para aderir ao reino que Jesus veio propor, encontra sempre resistências. Estes que repreendem e mandam calar o cego representam, todos aqueles que colocam obstáculos a quem quer deixar a sua situação de miséria e de escravidão para aderir à proposta libertadora que Cristo faz.

Também representa a outa face da falsidade e hipocrisia da multidão, que ora manda calar, ora finge encorajar o cego quando Jesus o manda chamar. No entanto, a multidão não só não desarma o cego, como o leva a gritar ainda mais forte: “filho de David, tem compaixão de mim”… A incompreensão dos homens (grupos) nunca fazem desistir aquele viu Jesus passar e que descobriu nele uma resposta de vida e de liberdade.

Jesus parou e mandou chamar o cego. Em resposta, o cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Deitar fora a capa significa, deixar tudo o que possui para ir ao encontro de Jesus. Jesus perguntou ao cego: “que queres que eu te faça?” O cego, cansado de estar sentado numa vida sem sentido, sem horizonte de futuro, metido numa grande escuridão, quer encontrar a luz, por isso responde prontamente: “Senhor, que eu veja”.

Bartimeu recuperou a vista e pôs-se a caminho. Volta Bartimeu ao caminho, mas não para se sentar à margem, mas sim para seguir Aquele que o salvou da escuridão da cegueira na qual sempre vivera.

O amor de Jesus liberta e dá ao cego uma nova vida. Quando as nossas ajudas ao próximo são feitas sem interesses egoístas , o outro torna-se nova pessoa, porém quando as nossas ajudas são interesseiras, deixamos os outros prisioneiros dos nossos favores e sem liberdade para actuarem. (ex: quando ajudamos, mas depois não perdemos a oportunidade de cobrar o favor feito. A pessoa fica sem poder dizer não e sente-se na obrigação de retribuir, mesmo contra a vontade… este tipo de ajuda, aprisiona, porque não é um favor desinteressado, mas interesseiro…). Muita atenção ao tipo de ajudas que damos que não mudam nada.

Quem assim age e afligem os outros com os seus maus comportamentos, são cegos, mais cegos que aqueles cujos olhos deixaram de enxergar a luz. É para estes tipos de cegueira do nosso dia-a-dia, que Jesus, através do Evangelho do cego de jericó nos faz o convite à conversão autêntica.

A beleza da fé deve encantar-nos sempre cada vez mais. Como Bartimeu, somos convocados a dar testemunho de verdadeira vida cristã e a seguir decididamente o Senhor, com o olhar sempre renovado.