Testemunho em hora de despedida
Por estes dias de Maio, ajoelho as minhas palavras aos pés da Senhora que veio com a Imagem Peregrina.
Não tenho nada para lhe oferecer para a viagem. Não sei bordar as palavras para lhe agradecer a Visita. Não me ocorrem metáforas novas para contar o que se experimentou, desde Outubro até agora, nestas duas rochas que se erguem do mar.
Ao papel de hoje, chegam-me desenhos de flores e de velas, de panos brancos a dançar no vento, de terços desfiados nos dedos que trabalharam a terra, que foram à faina da pesca, que prepararam a mesa, que abraçaram os filhos, que seguraram as dores, que limparam as lágrimas.
Não tenho mais nada. Apenas os recados que disse ao ouvido de Maria, quando ela cruzou o Seu coração com o meu. Apenas o abraço que Ela me ofereceu quando me obrigou a parar, a ouvir o silêncio e a iluminar a minha noite com a luz que segurei nas mãos.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela falou-me de um Sim dito em silêncio, de uma entrega sem limites. Falou-se de um Anjo e de um Deus que quis peregrinar ao meu lado. Falou de um Menino que nasceu sem nada, que cresceu, que falou de Amor, que acalmou o mar e que me pediu que O seguisse. Falou de um Homem que me pegou ao colo, que me abraçou na cruz, que me mostrou que a morte tem nome de esperança.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela ensinou-me a acreditar: “Fazei o que Ele vos disser!”. Apontou-me o céu e disse que a minha vida tinha de ser forte como as rochas desta ilha e doce como as areias do Porto Santo. Ensinou-me a olhar para as pontes que o Seu manto teceu, quando as comunidades se juntaram para receber a Sua Imagem. Ensinou-me a olhar para uma diocese unida na oração do terço. Ensinou-me a olhar para as lágrimas que lavavam os medos de cada pessoa que lhe tocava e a quem Ela chamava
- filho.
Foram sete meses de Maio neste arquipélago. A Imagem vai pesada de nós: leva a festa e leva o luto, leva-nos, embrulhados naquele olhar que Deus iluminou e que Ela deixou escorregar, em contas de luz, sobre as nossas mãos.
A Imagem vai. Fica a Mãe. E a Mensagem que trouxe.
Desta visita, guardarei no chão do meu peito, a certeza de que nunca ficarei sozinha. Porque a Mãe estará onde eu estiver: na praça, na escola, na igreja, na prisão e no hospital.
A Imagem Peregrina leva o que somos: um arquipélago que olha o céu com olhos de verde e de basalto, que marca os seus passos no areal e que é capaz de dar as mãos e de acreditar em milagres.
Não tenho mais nada. Apenas a voz das gentes,
- Santa Maria, rogai por nós!
e um lenço branco que leva escrito
muito obrigada!
Graça Alves